Quando pensamos na situação dos surdos na Idade Média, é preciso considerar todo contexto social daquela época profundamente diferente dos dias atuais.
Conhecer essa história é essencial para identificar os avanços quanto aos direitos dos surdos na sociedade e até mesmo ver como era sofrida a vida das pessoas que apresentavam deficiência auditiva. Para saber como era a vida dos surdos durante a Idade Média, confira nosso artigo.
Como os surdos na Idade Média viviam?
Para a sociedade da época, os surdos na Idade Média eram quase que totalmente excluídos. Isso ocorria principalmente em virtude de determinadas crenças sociais e religiosas, que interferiam na forma como as pessoas no geral viam as pessoas surdas.
Para começar a entender a vida dos surdos durante a Idade Média é preciso saber que esse período aconteceu na Europa e durou de 476 d.C até 1492. Esse momento histórico teve início logo depois da queda do Império Romano no Ocidente e finalizou durante a transição que deu início à Idade Moderna.
Todo o período da Idade Média ficou conhecido como Idade das Trevas. Os motivos não são por acaso. Essa época foi palco de profundos retrocessos filosóficos, intelectuais, institucionais e artísticos.
Em decorrência da predominância da Igreja Católica, bastante poderosa à época, todos os fenômenos da natureza, existência de doenças e demais situação não totalmente compreendidas pelo homem eram atribuídas de forma exclusiva à vontade divina. Isso significa que a ciência durante a Idade Média era praticamente inexistente.
Os pequenos avanços conquistados no campo científico foram possíveis graças às influências positivas dos povos orientais, gregos e árabes.
Outro fator relevante durante a Idade Média é que apenas as famílias pertencentes à nobreza conseguiam estudar. A educação das crianças geralmente ficava sob a responsabilidade da Igreja Católica ou era bastante influenciada por essa religião que era predominante.
Com isso, apenas uma pequena parcela da população sabia ler e escrever durante o período medieval.
Como os surdos na Idade Média eram tratados?
O isolamento dos surdos na Idade Média acontecia porque as pessoas não sabiam como lidar com essa condição no dia a dia. Tudo que era considerado fora do “normal”, geralmente causava espanto, medo e consequente afastamento por parte da sociedade.
Por esse motivo, os surdos geralmente ficavam restritos ao convívio com os familiares, sem qualquer oportunidade de exercer funções na sociedade.
É preciso salientar que na época da Idade Média a população sofria com um nível extremo de pobreza. Isso tornava ainda mais difícil a vida das pessoas surdas, já que todas elas dependiam dos seus familiares para sobreviver.
Para ter uma ideia de como a vida durante a Idade Média era difícil, basta saber que nesse período, um indivíduo com 30 anos era considerada velha. O motivo disso é que as pessoas dificilmente chegavam aos 30.
A baixíssima expectativa de vida era decorrente principalmente pela alta mortalidade infantil, falta de tratamento adequado para doenças, péssimas condições de higiene, alimentação precária etc.
Pelo motivo de a ciência quase não existir no decorrer da Idade Média, não era possível desenvolver qualquer tipo de método que favorecesse a comunicação com os surdos.
De maneira que hoje em dia consideramos absurda, na Idade Média, os líderes religiosos mencionavam que uma criança nascer surda era sinal que um castigo divino havia sido feito aos pais.
Mesmo diante de tantas limitações, durante o período medieval, John Beverley, um líder religioso que morreu em 721 d.C elaborou um importante trabalho na área de educação para surdos.
As consequências do preconceito
Os surdos na Idade Média, conforme dissemos, eram tratados com precariedade. Portanto, foram muitos séculos de atraso quanto à educação, alfabetização e entendimento profundo quanto à condição física dos surdos.
Em decorrência desse preconceito com origens históricas, até nos dias atuais a inserção social dos surdos ocorre de maneira lenta, já que muitos consideram apenas o fator da limitação física relacionada à surdez.
Idade Moderna e Idade Contemporânea
Após saber como os surdos na sociedade medieval eram tratados, é preciso conhecer sobre os grandes avanços que foram ocorrendo na Idade Moderna (1453-1789) e Idade Contemporânea (início em 1789).
Vários anos após o fim da Idade Média, Pedro Ponce de León (1520-1584), um monge beneditino espanhol, foi responsável pela criação de uma escola para pessoas surdas em Madrid. Pedro Ponce também é muito lembrado por ter desenvolvido o alfabeto manual.
Por meio desse alfabeto e da educação inicialmente recebida, os surdos conseguiam soletrar as palavras. Por esses resultados obtidos, ainda que iniciais na comunicação, Ponce é tido como um dos grandes pioneiros na educação dos surdos.
Em 1760, Charles-Michel de I’Épée, um educador francês, criou o primeiro Instituto Nacional de Surdos-Mudos da França, na cidade de paris. Essa instituição, que atualmente é nomeada de Instituto Nacional de Jovens Surdos de Paris, consistiu em um importante marco na história mundial dos surdos.
Foi devido aos métodos desenvolvidos nesse instituto que foi possível a criação da Língua Francesa de Sinais.
A importância da comunicação
À medida que passou a ser criado e utilizado um método padronizado de comunicação para pessoas surdas, o processo de inclusão social tornou-se facilitado. Ainda que exista um longo trabalho pela frente, hoje em dia o ensino e difusão das línguas de sinais é uma realidade concreta.
Tanto a comunidade de surdos brasileira quanto a mundial lutam continuamente pelo desenvolvimento de ações e políticas públicas que promovam o ensino, aprendizado e divulgação das línguas de sinais.
Há outros desafios?
Por mais que a comunidade de surdos brasileira e mundial tenha adquirido muitos direitos nas últimas décadas, há muito o que obter em termos de garantias e direitos essenciais nas áreas de educação, saúde, mercado de trabalho, cultura etc.
Após aprender sobre a história dos surdos na Idade Média, veja nossos outros temas com assuntos de imensa relevância para a comunidade de surdos no Brasil. Cada um deles é essencial para ampliar o ensino e divulgação da Libras – Língua Brasileira de Sinais.
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